Olhando os nossos Doze Passos, posso dizer que, no dia em que conheci o grupo do qual continuo a ser membro atuante até hoje, já tinha consciência de meus problemas e sentia que o álcool era, em parte, uma causa e um agravante desses problemas.

 

Eu já havia dado o Primeiro Passo, apenas ainda não o tinha lido na forma em que se nos apresenta.  Estava clara em minha mente a admissão de minha impotência perante o álcool e o pleno conhecimento de que ele dominava minha vida.  Àquela altura dos acontecimentos, podia dizer a mim mesma que minha vida girava em torno do álcool e que eu não possuía forças para dizer não a ele, nem virar-lhe as costas.

 

Após meu ingresso em Alcoólicos Anônimos, iniciei minha nova caminhada, valendo-me de todos os recursos a mim oferecidos, sendo que dois dentre eles foram por demais valiosos: Oração da Serenidade e a literatura.

 

Li o livro VIVENDO SÓBRIO com a mesma sede que esvaziava meus copos.  Em seguida, comecei a ler OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÔES.  Não sabia, naquela época, que este viria a tornar-se o livro mais importante da minha vida.  Mais importante até que a Cartilha Sodré, meu primeiro livro, aquele que abriu minha mente para tudo mais que venho lendo nesses anos todos.

 

Devo confessar que, na primeira leitura, pouco entendi do seu conteúdo, tal foi a voracidade com que o devorei.  É incrível, hoje, perceber a forma como direcionei minha compulsão pela bebida para a Oração da Serenidade e para a Literatura.  As duas juntas foram muito importantes nos meus primeiros dias, sóbria em casa, pois era ali que, sozinha, eu me deixava dominar e conduzir pelo álcool.

 

Entendi o Segundo Passo de forma meio bêbada.  Aconteceu que, mesmo na minha ativa eu ainda acreditava que Deus existia.  às vezes, eu perguntava a Ele por que deixava aquilo acontecer comigo e outras tantas vezes mandei-O plantar batatas, mas nunca neguei Sua existência e sempre tive certeza de Seu amor por mim.  Então, é fácil entender porque, apesar da minha mente ainda bêbada, agarrei-me tanto à Oração da Serenidade.  Felizmente, o álcool não havia afogado minha crença nem minha confiança no Deus do meu entendimento.

 

O Terceiro Passo - ah, esse foi difícil!  Eu tinha um medo horrível de entregar minha vida e minha vontade a Deus.  Ele fizesse alguma besteira e eu não gostasse.  Cabe lembrar aqui o Capítulo Cinco do livro ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, que trata do egocentrismo do alcoólico e da sua pretensão de dirigir sozinho o show, tomando o lugar de Deus.

 

Era fundamental colocá-lo como Diretor do espetáculo da minha vida, e, para conseguir isso, busquei ajuda no Décimo Primeiro Passo de A.A..  Esse Passo levou-me à aceitação do outro, o mais difícil para mim.

 

Trabalhei estes dois passos conjuntamente, valendo-me também de outras leituras e das experiências dos demais companheiros.  Precisei também trabalhar com muita intensidade o Sétimo Passo.  É incrível como meu conceito de humildade era falho.  É maravilhoso e de valor inestimável a forma como esse Passo define, mostra e orienta a respeito da humildade.  Feito isso, consegui colocar em prática o sugerido no Sexto Passo.  Fantástico, descobri minha fórmula para colocar em prática os Doze Passos sugeridos.

 

Eu, uma alcoólica, portadora de uma doença que deforma o caráter, ao tomar conhecimento dessa minha triste realidade, consegui dar a volta por cima e transformar tristeza em alegria.  Hoje, após várias vinte e quatro horas de serena sobriedade, eu consigo até avaliar meu crescimento na Irmandade.

 

Creio que estes passos: Terceiro, Décimo, Primeiro, Sétimo e Sexto foram e continuam sendo os mais importantes no meu programa de recuperação e na minha busca de constante reformulação.

 

Os outros Passos - venho praticando-os no meu dia-a-dia.  O Quarto e o Décnimo basicamente interligam-se e completam-se.  O mesmo acontece com o Oitavo e o Nono.  O Quinto, escolhi fazê-lo semanalmente, com meu terapeuta e, durante as reuniões, ao usar a cabeceira da mesa.  Mas onde reside o segredo?  Para mim, o segredo encontra-se numa simples e singela palavra: sugeridos.

 

Posso agora, após essa ampla reflexão, afirmar que, tendo feito o Primeiro Passo, ou seja, admitindo que sou alcoólica, aceitando essa evidência e buscando ajuda, consegui desenvolver boa vontade permanente para a mudança de comportamento e a busca de soluções para meus problemas, na constante troca de experiências, forças e esperanças, porque tudo me foi sugerido, nada imposto.  Não preciso obedecer, posso decidir, tornando-me, então, responsável por meus atos e meu novo comportamento.

 

Surge, então, o Décnimo Segundo Passo, que nada mais é que  o coroamento de todo um esforço para o despertar espiritual e a transmissão da mensagem de A.A..  POsso, então, tranquilamente, dizer em minhas falas, quando uso a palavra nas reuniões: Sou uma alcoólica em Alcoólicos Anônimos, praticando os programa que A.A. sugere.

 

Essa é a minha saudação àqueles que se encontram presentes na sala.  É uma pequena declaração, feita com paz e tranquilidade.  Posso, no final dessa avaliação, dizer que venho me esforçando na vivência desses princípios, não só dentro da Irmandade, como também no meu convívio familiar e social.

 

Preciso, agora, agradecer a Deus por ter-me cumulado com tantas bênçãos e graças, humildimente, rogando-Lhe que me livre de imnhas imperfeições, para que eu possa, assim, provar a todos que a felicidade verdadeira encontra-se dentro de cada um  e é demonstrada na simplicidade de bem viver e conviver.

 

Passo a transcrever aqui uma passagem do Capítulo Cinco do Livro Azul que costumo utilizar como Oração da Manhã:

"Deus, ofereço-me a Vós para construirdes através de mim e fazerdes de mim como quiserdes.  Libertai-me da escravidão do ego, a fim de servir melhor a Vossa vontade.  Removei minhas dificuldades para que a vitória sobre elas dê testemunho, junto aos que quero ajudar, do Vosso Poder, Vosso Amor e Vosso Modo de Viver.  Que eu possa sempre obedecer à Vossa vontade!"