Nunca tive problemas com álcool, até fazer uma cirurgia bariátrica há doze anos atrás.  Minha vida mudou radicalmente, sem ter sido preparada para isso.

 

Eu não bebi na adolescência, nem tive problemas com drogas ou coisas do tipo.  Sempre fui excelente aluna, obtive prêmios e até mesmo duas bolsas de estudos no exterior.  Me casei e tive dois filhos. Sempre fui independente financeiramente e tive uma vida 'normal'. Graças a Deus, sempre fui ativa fisicamente e sempre gostei muito de nadar, atividade que faço regularmente hoje em dia.

 

Após a bariátrica, eu não conseguia comer direito, e durante um ano, tive um certo tipo de acompanhamento e orientação.  Mas depois disso, eu mesma decidi abandonar o tratamento, pois afinal já havia emagrecido o que eu queria.  Nunca fui orientada a continuar voltando para consultas médicas ou mesmo que poderia ter problemas com o álcool.

 

Eu continuava com dificuldades para me alimentar, principalmente à noite, quando optava, e ainda opto, por líquidos, sopinhas ou caldos.  Foi quando descobri que cerveja me saciava e ainda me deixava relaxada para dormir.

 

O alcoolismo não teve a menor pressa comigo.  Comecei bebendo eventualmente, até porque meu primeiro marido não bebia.  Mas, no segundo casamento as coisas mudaram.  Os problemas vieram e passei a beber mais e com maior frequência.  Era uma forma de ir dormir e não ficar pensando nos problemas.

 

Como eu acordava sem ressaca, ainda me lembrava um pouco do que havia dito e feito na noite anterior e conseguia ir trabalhar, à noite bebia e ia dormir sem dor na alma, sem preocupação e anestesiada.  Mas comecei a sentir que algo estava dando errado e que estava dependente do álcool à noite.

 

A pandemia começava e meus dois filhos foram trabalhar fora do Brasil.  Na sequência minha mãe teve Covid e faleceu.  Daí os problemas aumentaram.  Eu continuava sem conseguir mastigar depois das 18h, e só queria relaxar e dormir.

 

Entrei em Alcoólicos Anônimos com muita vontade de, apenas, aprender a beber.  Não entrei para parar de beber, afinal eu não me considerava uma alcoólatra.  Mas rapidamente me identifiquei como uma doente alcoólica; entendi que eu tinha que parar com a compulsão senão todas aquelas coisas que eu ouvia, e ainda ouço nas reuniões de A.A., iriam acontecer comigo também.

 

Eu havia engordado uns 20 quilos dos 40 que eu tinha emagrecido após a cirurgia bariátrica, quando descobri que tinha que tirar a vesícula.  Entrei numa dieta, mergulhei no A.A. e foquei mais seriamente na natação.  Aprendi a comer sopinhas, gelatinas, sorvetes diet, frutas e coisas bem leves à noite e, em um ano e dois meses na Irmandade, já perdi 30 quilos - estou mais magra agora do que depois da cirurgia.  Me sinto mais bem disposta e com vontade de viver.  Frequento as reuniões assiduamente e ainda cumpro com todos os sugeridos. Fiz de Alcoólicos Anônimos a minha nova forma de viver e tem dado super certo.  Só por hoje, funciona gente!