Meu nome é Lisana e eu faço 43 anos no dia 16 de junho. Sou gaúcha, mas moro em Brasília desde 2014.
Eu penso e sinto que já nasci alcoólatra. Não porque comecei a beber cedo (minha mãe não permitia isso – pela graça do Poder Superior), mas porque nunca tive controle sobre a quantidade de bebida que eu ingeria. Não lembro qual foi a primeira vez que eu tive um “apagão” e também não lembro quantas vezes tive apagões, pois foram inúmeros e incontáveis. Mesmo assim, achava que meu problema era fraqueza, pouca força de vontade ou pouco esforço em parar de beber na segunda taça. Percebi que esse problema era realmente grave quando comecei a beber de manhã. Mais recentemente percebi que a situação tinha se agravado quando a primeira garrafa de espumante ou vinho não faziam mais o mesmo efeito e já comprava no mínimo duas por vez. Infelizmente, nada disso foi suficiente para eu parar de beber.
Eu recorria ao álcool por dois motivos: para silenciar a “falação” dentro da minha cabeça e para esquecer ou amenizar o vazio que sentia dentro do meu coração.  
Nos últimos cinco anos, minha vida foi de muito sofrimento, isolamento e ódio de mim mesma. E o motivo principal era a bebida. Eu já sabia que eu era alcoólatra (penso que há uns quatro ou cinco anos), mas eu não aceitava. Tanto que eu já tinha tentado tratamentos como terapia e medicamento. Já tinha lido o suficiente sobre o assunto para entender que Alcoólicos Anônimos é, na minha opinião, o melhor tratamento para essa doença.
Foi somente quando um anjo, em forma de homem, me mostrou em uma conversa no WhatsApp que eu sou doente alcoólica e que sozinha eu não conseguiria parar de beber. Eu me refiro a ele como um anjo porque houve algo tão diferente naquela conversa que fez com que eu aceitasse que EU SOU ALCOOLATRA. Isso significa que, naquele momento, eu entendi que eu perdi para o álcool e que ele dominava aquela prisão que era minha vida.
Nesse dia, 05 de fevereiro de 2024, o anjo me enviou o link de uma reunião feminina on-line. Eu entrei e me senti aceita, compreendida e amada. Não houve julgamentos, brigas, xingamentos, inveja, nem nada do que eu estava acostumada no que se referia a minha vida e a minha forma de beber. Eu fiz a melhor decisão da minha vida e ingressei na irmandade de AA. Desde então, eu assisti a pelo menos uma reunião on-line ou presencial por dia. Na maioria dos dias foram reuniões on-line no Grupo Amor, que é meu grupo base.
O grupo Amor faz jus ao nome: é amoroso, afetuoso e comprometido com os princípios de A.A.. Ainda que eu me sinta sempre muito bem em reuniões mistas, a reuniões específicas para mulheres têm um lugar especial no meu coração. Não só porque foi minha sala de ingresso, mas porque na reunião feminina nos despimos e conversamos abertamente sobre todos os assuntos femininos.
No meu entendimento, a minha recuperação só é possível porque meu Poder Superior me colocou dentro de uma sala de A.A., porque eu estou todos os dias em reuniões e porque eu estou fazendo o programa. Ainda que esteja hoje há apenas 120 dias em sobriedade, já tenho uma nova vida em vida. Uma vida útil, feliz e íntegra.
Estar em recuperação significa muitas coisas. Significa viver e não apenas sobreviver no inferno que era minha vida. Significa ter relacionamentos sinceros. Significa ter ajuda para silenciar a “falação” da minha cabeça. Significa que o vazio dentro do meu coração diminui a cada dia e nos dias em que ele quer reaparecer eu tenho ferramentas para lidar com ele. É também ressignificar todos os aspectos da minha vida desde o meu relacionamento com meu Poder Superior, com meus familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos e, principalmente, comigo mesma. Não é um processo fácil, mas é simples e não é solitário. Pelo contrário, não me sinto mais sozinha. Tenho o apoio da sala, da minha madrinha, das minhas companheiras de confiança e também dos demais companheiros e companheiras de A.A.. Hoje eu priorizo o cuidado de mim mesma. A minha recuperação é a coisa mais importante na minha vida, pois sem ela eu não tenho vida.
Eu já tinha ouvido falar da Colcha de Retalhos, mas ainda não tive o prazer de participar de eventos. Estou muito animada em participar e contribuir como eu puder.
Assim como todos os princípios e tradições, eu respeito o anonimato de A.A.. Mesmo assim, eu entendo que faz parte da minha honestidade que as pessoas importantes para mim participem dessa imensa parte da minha vida. Isso quer dizer que, as pessoas perto de mim sabem que eu sou uma alcoólica em recuperação e eu compartilho a minha história e estou aberta a conversar com qualquer pessoa.