BEBER MAIS TARDE NA VIDA

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Pacientes que começam a abusar do álcool mais tarde vida - depois dos 40 anos - pode estar fazendo isso em decorrência de uma condição neurológica subjacente, de acordo com novas descobertas.  Pesquisas anteriores mostraram que o abuso de álcool ao longo da vida é um fator de risco para demência.  No entanto, era desconhecido se os adultos mais velhos, que começam a abusar do álcool no final da vida, já sofriam de uma doença neurodegenerativa.  A pesquisa revelou que 7% dos pacientes com demência começaram a abusar álcool no final da vida, e 5% o fizeram como o primeiro sintoma da doença do alcoolismo.
“Os pacientes que começam a usar álcool mais tarde na vida geralmente são vistos pela primeira vez por psiquiatras, prestadores de cuidados primários e especialistas em reabilitação - esses profissionais devem estar cientes da possibilidade que uma doença neurodegenerativa pode estar envolvido”, disse o principal autor Georges Nassan, MD, professor no Mount Sinai.  “O diagnóstico precoce é fundamental para melhorar qualidade de vida dos pacientes e familiares”.
Fonte Journal of Alzheimer's Disease, abril de 2022 (AA GRAPEVINE,
 
No Brasil, o consumo nocivo de álcool é um dos principais fatores de risco evitável para diversos agravos, em especial doenças crônicas não-transmissíveis. Entre a população idosa, essa situação é ainda mais preocupante, uma vez que o uso frequente e excessivo dessa substância nessa faixa etária pode trazer sérias complicações de saúde e até mesmo levar a óbito. O álcool é o 7º maior fator de risco para a carga total de doenças entre indivíduos de 50 a 69 anos e o 10º para indivíduos maiores de 70 anos1.
Isso porque, com o envelhecimento, a tolerância do corpo ao álcool diminui devido a uma série de alterações fisiológicas, como mudanças na capacidade de metabolização hepática e função renal, e alterações na composição corporal, com maior tendência à desidratação. Assim, a ingestão de álcool na terceira idade pode provocar efeitos mais acentuados quando comparados aos adultos de mesmo sexo e peso. Além disso, outros  fatores de risco relativamente comuns nessa faixa etária somam-se às mudanças fisiológicas e podem contribuir para o uso nocivo do álcool, como a viuvez, solidão, perda de amigos, aposentadoria, isolamento, entre outros.
Dentre as consequências do uso nocivo de álcool nessa fase da vida, destacam-se déficits no funcionamento cognitivo e intelectual, prejuízos no comportamento global, aumento do número de comorbidades e agravos a outros problemas de saúde comuns à idade. Além disso, o consumo de álcool pode expor idosos a maior risco de quedas e outras lesões, além de provocar efeitos secundários pela interação com medicamentos mais comumente utilizados por essa população.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mostram que a população brasileira ganhou 4,8 milhões de idosos (com 60 anos ou mais) entre 2012 e 2017, chegando a 30,2 milhões. Os números são altos e inspiram cuidados e atenção2. São mais de 155 mil pessoas idosas afetadas anualmente, entre internações e óbitos atribuíveis ao uso de álcool, o que significa que, a cada hora, cerca de 18 pessoas com idade acima de 55 anos sofrem alguma consequência devido ao abuso dessa substância.
Entre 2010 e 2019, houve uma tendência de aumento na média anual das internações atribuíveis ao álcool. Os idosos representam 34% dessas internações (a maior parcela entre todas as faixas etárias), com variação anual média de 1,09%. Além disso, de todas as internações nessa faixa etária, 3,02%, em média, podem ser atribuídas ao consumo de álcool3.
A tendência de aumento do consumo abusivo de bebidas alcoólicas entre as mulheres dessa faixa etária também é preocupante. Estima-se que, entre 2010 e 2019, houve um aumento de 2,85% no consumo entre as mulheres desse grupo. Além disso, no que diz respeito às internações, elas representam o dobro do índice observado na população geral 55+3. Dados de um estudo recente, realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com uma amostra de 5.432 brasileiros acima de 60 anos, indicam que a cada quatro brasileiros nessa faixa etária, um consome álcool. Além disso, a pesquisa identificou que cerca de 2 milhões de idosos têm o hábito de praticar o consumo abusivo de álcool, ingerindo várias doses ao longo do mês. O estudo ainda mostrou dados alarmantes, como o fato de 3,8 % dessa população costumar beber quantidades que podem colocar sua saúde em risco ao longo de uma semana4.
A ingestão de bebidas alcoólicas também é um dos fatores de risco para o início precoce de todos os tipos de demência, podendo alterar circuitos neurais, como o de estresse e cognição, prejudicando o planejamento motor, a coordenação motora, o equilíbrio, a fala, o comportamento e as funções cognitivas. O desencadeamento de tais alterações também pode ser fator determinante para o surgimento de limitações físicas significativas. Estudo nacional realizado com idosos indicou que o uso crônico de álcool nessa fase da vida está associado a limitações físicas significativas, com pior capacidade funcional para marcha e outras dimensões da função motora5, como habilidade motora fina, coordenação global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal, e aptidão motora geral. Essas perdas funcionais motoras aumentam a incidência de quedas que, associadas à osteoporose comum nessa fase, acabam provocando fraturas, com agravamento das incapacidades motoras.
Estimativas com dados nacionais apontam que as principais causas de internações relacionadas ao uso de álcool na faixa etária 55+ no Brasil foram queda (14,8%), outras lesões não intencionais (13,3%) e transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool (10,2%). Por hora, 2 idosos são hospitalizados em razão da queda associada ao uso do álcool no país3.
Entre 2010 e 2018, observou-se uma tendência de aumento com variação média anual de 0,37% nos óbitos atribuíveis ao álcool no Brasil para a faixa etária 55+ anos; assim, de todos os óbitos entre os idosos de 2010 a 2018, 2,29%, em média, são atribuíveis ao uso nocivo de álcool. Entre as mulheres com 55 anos ou mais, a tendência também é de aumento, com variação média anual de 0,4%.
Em casos de óbitos atribuíveis ao álcool, os principais agravos foram cirrose hepática (21,7%), doença cardíaca hipertensiva (10%) e transtornos mentais e comportamentais (8,8%). No entanto, essas causas e índices variam bastante conforme o Estado, por exemplo, em São Paulo, o principal agravo de internação foi doença cardíaca hipertensiva (15,1%), e a cirrose hepática representou 25,5% das mortes atribuíveis ao álcool.

O objetivo desta página é oferecer informações que possam ampliar a compreensão sobre os aspectos médicos, legais e sociais da alcoolismo; a gravidade e abrangência internacional da doença; e os esforços mundiais para combatê-la.  A publicação aqui não implica endosso ou afiliação.  Alcoólicos Anônimos não conduz ou participa de pesquisas, nem tem qualquer opinião sobre pesquisas realizadas por terceiros.