A importância do livro ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
Por Carlos Eduardo Fraga - Filósofo, psicanalista, doutor em Psicologia e Amigo de A.A..
OS PRINCÍPIOS DA RECUPERAÇÂO EM ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
O livro Alcoólicos Anônimos tem a essência da programação proposta por A.A.. É o primeiro livro escrito pela irmandade e também o mais completo. Explica com clareza qual o problema do alcoólico, qual a solução proposta e como colocar em prática esta solução. Neste livro, está contido tudo o que é necessário à recuperação do alcoolismo de acordo com os princípios de A.A.. Portanto, sua leitura e compreensão é muito importante não só para o recém-chegado entender o seu problema como também sua leitura e releitura é primordial para todos os membros que desejam uma recuperação realmente completa.
É preciso que o alcoólico entenda minimamente o que é o alcoolismo para deixar de ter esperanças de controlar o uso da bebida. É preciso que entenda minimamente qual é o seu problema. Isto é o que o Dr. Silkworth tenta explicar logo no início do livro. Para ele, o alcoolismo é uma doença física e mental ao mesmo tempo. Tem um lado físico, metabólico, a compulsão; e, também, um lado mental, a obsessão mental. Com isso, o médico mostrou que o problema não era moral, uma fraqueza moral, mas sim um problema de saúde impossível de ser controlado pelo sujeito após ingerir o primeiro gole. A compulsão física foi então considerada um problema metabólico, como o diabetes, por exemplo; e, por isso, fora do controle moral do indivíduo.
Porém, Dr. Silkworth foi ainda mais longe na compreensão do problema. Viu no alcoolismo uma dupla causalidade, por um lado metabólica e, por outro, psicológica. Descreveu também uma obsessão mental: uma doença de dupla face. Por isso, não basta só parar de beber. É preciso também tratar o aspecto mental. Se apenas se evita o primeiro gole e não se trata a obsessão mental, o mais provável é recair no uso compulsivo.
O aspecto físico da doença não é possível tratar. Alcoólicos Anônimos considera que sempre que beber, por motivos fisiológicos, o alcoólico cairá em compulsão. Este é o sentido de ser dito que o alcoolismo é incurável. A única solução possível, então, é a abstinência completa. Porém, só a abstinência não trata o aspecto mental do problema. É preciso tratar também a obsessão. Isto é feito através de um programa de recuperação baseado nos Doze Passos.
Caso apenas pare de beber e não pratique os passos, o mais provável é que a obsessão mental mais cedo ou mais tarde leve o alcoólico à recaída. Pode acontecer também do membro praticar apenas o primeiro e o décimo segundo passo, a dita dança dos dois passos. Porém, neste caso, sua recuperação será bastante incompleta e baseada apenas no medo e em partilhas pesadas que lembram, a todo tempo, os sofrimentos do período de ativa. Este último tipo de recuperação, que não pratica a maioria dos passos, tem uma baixa qualidade de vida e não se beneficia de tudo o que pode proporcionar o programa de recuperação.
O programa de recuperação não pode mudar o aspecto físico da doença. Pode somente sugerir a abstinência para conter a compulsão. O programa apenas pode atuar sobre o aspecto mental, atuar sobre a obsessão mental através de um programa de passos. Mas, qual a principal característica da obsessão mental do alcoólico? De acordo com o capítulo cinco do livro, a principal característica é o egocentrismo. É sobre este aspecto que atuarão os Doze Passos.
Se no início do livro o médico diz qual o problema, do primeiro ao quarto capítulos é dita a solução proposta por A.A.: vir a acreditar em um poder superior. Como foi exposto, em relação à parte física se propõe a abstinência. Mas, ela não basta. É preciso tratar a obsessão mental que tem como principal característica o egocentrismo. A solução então, sugerida pela irmandade, é uma mudança na maneira de pensar, sentir e agir. Tirar o centro de si e colocar em um poder superior. Algo que equivaleria, nas palavras de Jung, a uma verdadeira conversão. É uma mudança psíquica, assim é definido o despertar espiritual que acontece com a prática dos passos. Toda a programação é para mudar uma postura egocêntrica que busca controlar o mundo e impor sua vontade. O despertar espiritual consiste nessa mudança radical na maneira de pensar, agir e sentir. De egocêntrico, o alcoólico se percebe fazendo parte de algo maior que é regido por forças que estão além do seu ego. Essa compreensão, e a nova maneira de viver que vem com ela, é a essência da programação de A.A..
Depois de dizer qual o problema e qual a solução proposta, no capítulo cinco se mostra exatamente como funciona o processo de recuperação. Todo processo se baseia no terceiro passo, a entrega da vontade, que por isso mesmo é o passo pedra angular da programação. Se o egocêntrico tenta fazer tudo sozinho e impondo sua vontade, a mudança proposta é justamente fazer não a própria vontade, mas o sugerido por um poder superior, ou seja, o sugerido pela programação. É um programa de ação, mas uma ação que não obedece à própria vontade ainda patológica do alcoólico. Um programa de ação é a melhor solução para o problema, pois a ação sempre envolve corpo e mente, ou seja, os dois lados da enfermidade do alcoólico.
Com grande simplicidade e através da experiência, Alcoólicos Anônimos chegou a uma solução para o difícil problema do alcoolismo. Em 2019, duas das maiores Universidades do mundo, Harvard e Stanford, em uma ampla pesquisa de revisão mostrou que A.A. tem o método mais eficaz para recuperação do alcoolismo. Bateson, grande pensador do século XX, também percebeu como A.A. está à frente de seu tempo e, até mesmo, de boa parte da ciência atual, justamente por não separar corpo e mente. Ou seja, A.A. continua na vanguarda do mundo apesar de sua grande simplicidade: ele está ao alcance de todo o alcoólico que deseje utilizá-lo.
Porém, A.A. não nasceu do nada. Ele tem fontes, como mostra Bill W. no artigo A origem dos Doze Passos. As fontes são William James e seu livro As variedades da experiência religiosa, o próprio Dr. Silkworth e os Grupos Oxford. Depois, em 1961, Bill inclui uma outra fonte: Carl Jung. Porém, ninguém inventou A.A., ele é uma obra viva. É como se diz: ‘’A.A. brotou”. Das fontes que já existiam, foi feita uma obra única. Como uma semente de girassol que mistura a terra, a água e a luz do sol e produz um girassol único, A.A. pegou fontes que já existiam e com sua força vital de síntese criou uma coisa nova e única. Neste sentido, a semente de girassol, a própria vida, é o maior dos ‘Van Goghs’. Assim também Alcoólicos Anônimos brotou, não foi inventado por ninguém, vem da força da própria vida, ou seja, de um poder superior.
Porém, A.A. não nasceu do nada. Ele tem fontes, como mostra Bill W. no artigo A origem dos Doze Passos. As fontes são William James e seu livro As variedades da experiência religiosa, o próprio Dr. Silkworth e os Grupos Oxford. Depois, em 1961, Bill inclui uma outra fonte: Carl Jung. Porém, ninguém inventou A.A., ele é uma obra viva. É como se diz: ‘’A.A. brotou”. Das fontes que já existiam, foi feita uma obra única. Como uma semente de girassol que mistura a terra, a água e a luz do sol e produz um girassol único, A.A. pegou fontes que já existiam e com sua força vital de síntese criou uma coisa nova e única. Neste sentido, a semente de girassol, a própria vida, é o maior dos ‘Van Goghs’. Assim também Alcoólicos Anônimos brotou, não foi inventado por ninguém, vem da força da própria vida, ou seja, de um poder superior.
@cadufraga.filosofia
Imagem "Os Girassóis" de Vicent Van Gogh.