OUTROS PROBLEMAS ALÉM DO ÁLCOOL

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"Talvez não haja sofrimento mais horrível do que dependência de drogas, especialmente aquela produzida pela morfina, heroína e outros narcóticos.  Essas drogas distorcem a mente, e a crise de abstinência tortura o corpo do sofredor.  Comparado com o sofrimento do adicto, nós alcoólicos somos um pálido reflexo.  Barbitúricos levados a extremos, podem ser igualmente nocivos.  Em Alcoólicos Anônimos, temos membros que conseguiram recuperação, tanto da garrafa quanto da agulha.  Temos também muitos outros que foram - ou ainda estão sendo - vítimas de bolinhas e até mesmo de novos tranquilizantes.
 
Consequentemente, esse problema de dependência de drogas está, sob diversas formas, perto de todos nós.  Ele desperta nosso mais profundo interesse e compreensão.  Por toda parte, vemos uma legião de homens e mulheres que estão tentando resolver ou fugir de seus problemas por estes meios.  Muitos AAs, especialmente aqueles que que tem sofrido com essas dependências, agora perguntam “O que podemos fazer acerca do problema de drogas – dentro e fora de nossa Irmandade?"

Devido ao fato de existirem vários projetos que utilizam os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos, com bastante êxito, para auxiliar as pessoas que fazem uso de drogas e outros medicamentos - projetos nos quais os próprios membros de A.A. trabalham. [...]  

Nossa primeira responsabilidade, como Irmandade, é assegurar nossa própria sobrevivência.  Portanto, temos que evitar distrações e atividades de propósitos múltiplos.  Um Grupo de A.A., como tal, não pode assumir todos os problemas pessoais de seus membros, muito menos os problemas do mundo inteiro.
 
Sobriedade — libertação do álcool — através do aprendizado dos Doze Passos é o único propósito de um Grupo de A.A..  [...]  Também temos aprendido, por experiência, que não há nenhum meio possível para fazer não-alcoólicos tornarem-se membros de A.A..  Temos que limitar nossa Irmandade aos alcoólicos, e também limitar nossos Grupos de A.A. a um único propósito.  Se não nos agarrarmos a esses princípios, não poderemos ajudar ninguém.

Para ilustrar, vamos rever algumas experiências típicas.  Anos atrás, esperávamos que nossos familiares e certos amigos não-alcoólicos, que tinham sido de grande ajuda, pudessem ser membros de A.A..  Eles tinham seus problemas também, e desejávamos acolhê-los em nossa comunidade.  Infelizmente, descobrimos que isso era impossível.  Eles não eram capazes de fazer depoimentos de A.A. nem, salvo algumas exceções, podiam se identificar com novos membros de A.A..  Por isso não podiam dar continuidade ao trabalho do Décimo Segundo Passo.  Por mais próxima que essa boa gente estivesse, não poderíamos permitir-lhes tornarem-se membros de A.A..  Domente poderíamos recebê-los em nossas reuniões abertas.

Portanto, não vejo como transformar adictos não-alcoólicos em membros de A.A..  A experiência demonstra-nos claramente que não podemos admitir exceções, embora os usuários de drogas são, por assim dizer, parentes muito próximos de nós alcoólicos.  Se persistirmos em abrir exceções, receio que prejudicaremos o próprio adicto, bem como a Irmandade de A.A..  Devemos aceitar o fato de que nenhum não-alcoólico, seja qual for sua aflição, pode ser convertido em um membro de A.A.. [...]
 
Um dos melhores AAs que conheço é um homem que esteve sete anos na dependência de droga, antes de se juntar a nós.  Mas antes da dependência da droga, ele tinha sido um alcoólico ativo, e sua história comprovou isso.  Portanto, ele poderia se qualificar para A.A., e tornou-se um de nós.  Desde então, ele tem ajudado muitos AAs e alguns não-AAs com seus problemas com drogas e outros medicamentos.  Naturalmente, isso é assunto dele e não do grupo ao qual ele pertence.  Em seu grupo, ele é membro porque, em fato real, ele é um alcoólico.  Isto é, basicamente, o que A.A. não pode fazer - por dependentes de narcóticos ou por qualquer outra pessoa.

Bom, então o que se pode fazer?  Algumas respostas muito eficazes para problemas que não sejam a libertação do álcool sempre foram encontrados por meio de grupos de propósito específico, alguns deles operando dentro de A.A. e, outros fora. [...]
 
Tenho certeza de que essas experiências de ontem podem ser a base para esclarecer a confusão de hoje, acerca do problema de drogas. Este problema é novo, mas a experiência e as Doze Tradições podem resolvê-lo, já que são antigas e testadas pelo tempo.  Acho que podemos resumir assim: não podemos aceitar como membros de A.A. dependentes de drogas não-alcoólicos.  Mas estes, como qualquer outra pessoa, podem assistir as reuniões abertas de A.A., desde que os Grupos permitam.
 
Os membros de A.A., que também usam drogas, devem ser encorajados a se unir em grupos para lidar com os problemas de sedativos e outras drogas, e abster-se de se autodenominarem Grupos de A.A..  Parece não haver razão alguma para que alguns AAs não podem juntar-se, se assim o desejarem, a um grupo de dependentes apenas de drogas para resolver o problema do álcool e o problema de drogas juntos.  Mas, obviamente, tal grupo, com propósito duplo, não deveria insistir em se chamar um Grupo de A.A., nem deveria usar o nome de A.A. em sua denominação.  Nem deveriam os participantes, dependentes apenas de drogas, serem levados a acreditar que eles se tornaram membros de A.A. em razão de tal associação.

Certamente, há muitos motivos para os AAs interessados ​​se juntarem a grupos externos que trabalham no problema de drogas, contanto que as Tradições de anonimato e não endosso sejam respeitados.  Concluindo, quero dizer que, através da história de A.A., a maioria de nossos grupos de propósitos especiais tem realizado coisas maravilhosas.  Há grandes razões para esperar que aqueles AAs que estão agora trabalhando no penoso campo da dependência de drogas alcancem igual sucesso.

Em A.A., o grupo tem rigorosas limitações, mas o indivíduo tem quase nenhuma.  Não se esquecendo de observar as Tradições de anonimato e não endosso, ele pode levar a mensagem de Alcoólicos Anônimos para qualquer área em dificuldade deste mundo turbulento."
 
(Bill W., cofundador de Alcoólicos Anônimos, OUTROS PROBLEMAS ALÉM DO ÁLCOOL, 2019)
 
 
Medicamentos e outras drogas
 
Alguns membros de Alcoólicos Anônimos devem tomar remédios receitados para problemas sérios de saúde.  Contudo, é geralmente aceito que o uso abusivo de remédios controlados e outras drogas pode ameaçar o alcance e a manutenção da sobriedade. [...] Desde os primeiros dias de Alcoólicos Anônimos, observa-se que muitos alcoólicos têm tendência a tornarem-se dependentes de outras drogas que não seja o álcool.  Têm ocorrido graves incidentes com alcoólicos tentando atingir a sobriedade, mas que acabam com problemas igualmente sérios com outra droga.  De tempo em tempo, os membros de A.A. têm relatado episódios perigosos e ameaçadores que poderiam estar relacionados ao uso inadequado de medicamentos e outras drogas.
 
 
A experiência mostra que, enquanto alguns medicamentos são seguros para a maioria dos não alcoólicos, quando tomados de acordo com as orientações médicas, os mesmos podem afetar os doentes alcoólicos de uma maneira diferente.  Acontece com frequência que estas substâncias criem dependências tão devastadoras quanto a dependência do álcool.  Sabe-se também que muitos sedativos agem no corpo de forma similar ao álcool.  Quando estes remédios drogas - são usadas sem orientação médica, a dependência pode se estabelecer.
 
Muitos AAs que tomam remédio sem receita médica, descobrem a tendência do alcoólico para o uso indevido de medicamento.  Os membros de A.A. que usaram drogas de rua, maconha ou heroína, descobriram a tendência do alcoólico para tornar-se dependente de outras drogas.  A lista continua e irá aumentar à medida que novas drogas sejam desenvolvidas. [...]
 
Nós reconhecemos que os alcoólicos não são imunes a outras doenças.  Alguns de nós temos lidado com depressões que podem levar ao suicídio.  Esquizofrenia que às vezes requer  hospitalização; transtornos bipolares, e outras doenças mentais e biológicas..  Também entre nós há diabéticos, epilépticos, membros com problema do coração, câncer, alergias, hipertensão, e muitos outros problemas físicos.
 
Devido às dificuldades que muitos membros de A.A. têm com os remédios, alguns defendem que ninguém em A.A. deveria tomar qualquer medicação.  Enquanto esta posição tem evitado a recaída de alguns, tem sido desastrosa para outros. [...]  Fica claro que, da mesma forma que é errado incentivar a qualquer alcoólico usar algum tipo de medicamento, também é errado orientar que o doente alcoólico não tome medicação, que pode aliviar ou controlar um problema físico ou emocional.
 
(O MEMBRO DE A.A. - MEDICAMENTOS E OUTRAS DROGAS, JUNAAB - Junta de Serviços de A.A. do Brasil, 2017)
 

OUTROS PROBLEMAS ALÉM DO ÁLCOOL, direitos autorais A.A.W.S., traduzido e publicado pela Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil, 2019.  O MEMBRO DE A.A. - MEDICAMENTOS E OUTRAS DROGAS, direitos autorais A.A.W.S., traduzido e publicado pela Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil.  Toda literatura de Alcoólicos Anônimos pode ser adquirida nos grupos e nos escritórios de A.A. e no site da JUNAAB - Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil.