NO ALCOOLISMO ATIVO, ME ESPATIFEI NA CASA DA MINHA MÃE E GUARDEI MAIS UMA CICATRIZ

Informação Pública


"No alcoolismo ativo, me espatifei na casa da minha mãe e guardei mais uma cicatriz.  É muito injusto, no mínimo, o fardo que os familiares dos alcóolatras carregam; eles fatalmente adoecem, também.

'Agora você sempre vai saber quando o tempo for esfriar'.  Foi isso que o médico me disse ao me ver calçando uma daquelas botas de recuperação.  Eu tinha quebrado um ossinho do pé.  Havia me espatifado no chão na casa da minha mãe —ou teria sido em outro lugar?  Fato é que o osso nunca mais foi o mesmo, e é tão sensível que dói antes mesmo de mudar o tempo.  Essa é apenas uma das cicatrizes do meu alcoolismo ativo.  Desse dia pouco lembro, tenho apenas alguns flashes.

Fazia uma semana mais ou menos que eu havia desaparecido da minha casa - o que significa que ninguém da minha família, tampouco nenhum amigo mais próximo sabia do meu paradeiro – quando resolvi voltar para a casa da minha mãe.  (Já fazia mais de cinco anos que eu morava sozinha, mas era junto à minha mãe que buscava ajuda.)  Cheguei, caí na entrada do prédio (eu acho), peguei o elevador e subi até o quarto andar.  Muito estranho pensar que o cérebro, mesmo muito louco, me levava certinho aonde eu queria chegar.  Estava tão exausta que praticamente desmaiei no sofá da sala.

Pouco ou muito tempo depois, não sei dizer, minha mãe e minha irmã me acordavam com aquela cara de raiva e amor.  Uma expressão que não me sai da cabeça.  Gritos e muitas perguntas.  Minha cabeça explodindo, ainda sob efeito da bebida.  Aí começou uma discussão com xingamentos e acusações que em sã consciência nem eu nem elas jamais teríamos.  O interfone tocou.  Sim, era o porteiro perguntando se alguém precisava de ajuda.  'Você não percebe esse caos todo que instala na família?', indagava minha irmã com a voz embargada no choro de ódio, raiva e desconforto.  Eu não ligava, seguia entorpecida, só pensava em ir até a geladeira pegar alguma coisa para me ajudar a enfrentar aquela situação."
 
Texto publicado por Alice S., para o blog Vida de Alcoólatra - O silêncio mortal da bebida, no jornal FOLHA DE SÃO PAULO, em 11/09/2023.  Clique aqui para ler o texto.
 

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