NO SETEMBRO AMARELO, PRECISO FALAR DAS VEZES QUE TENTEI ME MATAR

Informação Pública


"No Setembro Amarelo, preciso falar das vezes que tentei me matar.  Parar de beber foi só o começo para reinventar minha vida, recriar rotinas e descobrir aquilo de que realmente gosto.

Lembrei que não tenho mais arroz pronto e disponho de pouco tempo para fazer antes de começar as reuniões do dia.  Enquanto corto a cebola bem fininha, vou elaborando uma lista mental das tarefas.   Saio para pegar o jornal na porta de casa e olho o texto sobre o Setembro Amarelo no canto direito da primeira página.  Me dou conta, com o jornal, a cebola e o gosto de café ainda na boca, que preciso falar das vezes que tentei me matar.

Sim, foram algumas.  Mas mais do que lembrar com detalhes dos ocorridos, acho importante recordar quantas outras inúmeras vezes tive vontade de morrer.  Toda vez que ouvia a música do Gonzaguinha com os versos:  'Ninguém quer a morte, só saúde e sorte', me sentia solitária e errante.  Hoje percebo o quão perigoso é esse sentimento e quanto eu precisava MUITO estar sempre na companhia de alguém para interromper esses pensamentos cíclicos.

Minha cabeça sempre foi muito criativa e julgadora.  Sempre fui terrível comigo mesma.  Quando era criança, já pensava na minha morte, na minha despedida, no medo da sensação de um dia saber que não teria mais aquele conforto de casa, dos pais.  Era bem estranho e contraditório.  Uma criança aparente e clinicamente saudável alimentava a ideia da finitude.  Lembro de dizer muitas vezes aos meus pais, às vezes aos berros e aos prantos, que ficassem comigo, pois eu estava morrendo, não havia dúvida, eu tinha certeza absoluta.   Não foram poucas as vezes que minha mãe desmarcou compromissos para estar ao meu lado."
 
Texto publicado por Alice S., para o blog Vida de Alcoólatra - O silêncio mortal da bebida, no jornal FOLHA DE SÃO PAULO, em 25/09/2023.  Clique aqui para ler o texto.
 

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